Fala a verdade, aposto que você deu suspiro quando leu esta pergunta: “tá difícil retomar a vida, né minha filha?”. E pra te dizer a verdade, até eu suspiro e reviro os olhinhos quando penso sobre ela…
E vamos combinar, ninguém aguenta mais falar de pandemia, COVID-19 e de isolamento social. Afinal, era para ser apenas uma quarentena, ou seja, não deveria durar mais do que quarenta dias. O que era para ser algo temporário, se estendeu além do esperado e agora a conta emocional deste ‘provisório que se tornou permanente’ começa a chegar para muitas pessoas.
Observo este fenômeno nos meus atendimentos, pessoas que nunca fizeram terapia as quais nó psicólogos definiríamos como “funcionais”, estão esgotadas! Estão num estado de apatia, angústia, congelamento e não têm energia para sair da cama algumas vezes. Começam a desenvolver sintomas de déficit de atenção, insônia, problema de memória, irritabilidade fora do normal, distúrbios de apetite… isso sem mencionar aquelas que já estavam em acompanhamento psicológico e tiveram recaídas profundas. Mas por que isso acontece? Como lidamos com isso? Como nos achamos neste “novo normal”?
ONDE EU ESTOU?
A maioria de nós vivia uma rotina corrida muito bem estabelecida, a gente corria tanto e nem sabia o porquê, mas uma coisa era certa… parecia que estávamos sempre atrasados, sempre atrás em termos de atualização profissional, tinha sempre alguém à nossa frente.
Um boleto emocional de estar constantemente devendo alguma coisa: se eu consegui terminar a faculdade, mal dá tempo de celebrar pois olhávamos para aquele amigo que já tinha arrumado um ótimo emprego… se tínhamos conseguido uma boa colocação profissional, tinha outro amigo que já havia sido promovido a gerente e a seguíamos correndo, correndo e devendo.
Numa sensação de sermos insuficientes, numa linha de chegada que nunca chegava, vivíamos uma pandemia de ausência de sentido.
E AGORA JOSÉ?
Então, eis que chegou um ser microscópico e roubou a nossa liberdade, colocou nossas vidas de pernas pro ar e nós tentamos acomodar tudo aquilo que fazíamos lá fora, dentro de casa. O lar se torna TUDO: academia, escritório, igreja, restaurante, clube, consultório… como se fosse simples fazer um “ctrl+c – ctrl+v” da rotina.
E assim, foi mantida a mania de correr mas num formato um pouco diferente, o mundo foi invadido por uma avalanche de conteúdo, lives, cursos gratuitos, ebooks, canais abertos, shows… tudo disponível por tempo limitado e que era necessário consumir logo pois iria acabar.
A infodemia nos deixou ainda mais ansiosos, ainda mais acelerados, com uma necessidade constante de mostrar que estávamos trabalhando, ativos, produtivos, evoluindo cada vez mais acometidos por uma “Obesidade Intelectual”; onde nem temos tempo de acomodar tanta informação e já passamos para o próximo item da lista, conhecimento enlatado, descartável e da mesma forma que ele vem, ele vai. Passamos a ostentar os certificados dos cursos que feitos, o volume de livros lidos, sustentando as aparências reforçadas pelas redes sociais e quando não há grandes feitos a serem exibidos é possível usar a hashtag “tbt”, que faz um retrospectiva do mérito. Grandes filósofos debatem a dicotomia do ser x ter, ninguém discute a questão do “parecer”. Como se as pessoas fossem obrigadas a parecer bem sucedidas, saudáveis e felizes o tempo todo, uma verdadeira ditadura da felicidade.
NOVO NORMAL… SÉRIO???
Agora a moda é falar sobre o “novo normal”.🙄
Mas o que é “normal”? Se observarmos a definição do dicionário ele dirá que se trata de ‘um adjetivo de dois gêneros que significa conforme a norma, a regra, regular. Sinônimo de usual, comum, banal’. Banal… olhando nesta perspectiva, o normal não parece tão bom assim. E se o termo “normal” pudesse ser substituído por “natural”? Um natural que tem a ver com a esfera do “sentir”, seja no âmbito das emoções e sentimentos, seja no âmbito de “sentido” daquilo que fazemos.
E se ao invés de falarmos de mindset pudéssemos falar sobre feelset, a atitude de observar o sentimento, de observar aquilo que realmente faz sentido pra gente e assim definir o que é a nossa verdade, daquilo faz sentido mantermos por perto e dedicarmos energia para fazer. Não é necessário reinventar a roda, Daniel Goleman já fala de inteligência emocional a décadas, a Universidade de Campinas (UNICAMP) tem uma disciplina sobre Felicidade, a ONU criou World Happiness Report com indicadores para medir a felicidade nos países.
MAS, COMO É QUE EU FAÇO ISSO AÍ?
A primeira coisa a se fazer é trazer um novo olhar para si mesmo, sair do piloto automático do julgamento que tem o péssimo hábito de classificar tudo em bom e ruim, de elevar as virtudes e omitir vergonhosamente os defeitos. Quem nunca ouviu afirmações do tipo “sentir ansiedade é ruim, sentir felicidade é bom”; “cortisol (hormônio do stress) é ruim, serotonina é bom”… estas dicotomias que dividem o mundo em preto e branco não permitem que abarquemos a totalidade das nuances das infinitas cores que separam estes extremos.
Vamos começar falando de ansiedade? A sensação de coração disparado quando recebemos a notificação de mensagem do ‘crush’, ou quando finalmente estamos na expectativa certa daquele ‘sim’ depois de um longo período em busca de emprego; tem exatamente a mesma fórmula hormonal e fisiológica da ansiedade que te deixa com insônia à noite.
A ansiedade pode ser positiva! Ela é na verdade uma bomba de energia que prepara você para ter uma super performance, para sair da normose e ter um resultado acima da média. As pessoas precisam parar de querer se ajustar o tempo todo, na terapia fazemos isso através de duas frentes: a ressignificação, que nada mais é do que trazer um olhar diferente para uma mesma situação; e a psicoeducação, que ensina o paciente a reagir diferente mediante aquele fato e desenvolver novas estratégias emocionais para lidar com ele.
Fez sentido pra você? Se quiser saber mais, confira esses 5 passos que vão ajudar você a criar o seu “novo normal”.
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